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Memes na web

Os cinco passos para a criação de um meme na web.

Publicado em: 30 de ago. de 2017
Atualizado em: 02 de jul. de 2021

Na web os memes se caracterizam como signos que são retirados de seu contexto original e passam a ser repetidos exaustivamente na composição de novas mensagens, nos mais variados contextos e com os mais variados sentidos.

Memes

A expressão “meme” foi cunhada pelo biólogo britânico Richard Dawkins, na parte final de seu livro O Gene Egoísta. Neste livro Dawkins apresenta sua ideia sobre a evolução biológica que, para ele, diferente do que propusera Charles Darwin e diversos outros evolucionistas, ocorre na perspectiva dos genes, e não das populações de espécies.

O Gene

Para Dawkins, o gene corresponde a um tipo de “lei geral”, que se aplica a qualquer forma de vida. É ele a entidade replicadora, que garante a continuidade da vida e a adaptação dos seres no processo evolutivo. É o gene quem evolui primeiro para depois produzir novos organismos.

A fabricação de um corpo é um procedimento cooperativo de uma complexidade tão grande que é quase impossível distinguir a contribuição de um gene da contribuição de um outro. Um gene em particular terá muitos efeitos diferentes em partes completamente diferentes do corpo. Uma determinada parte do corpo será influenciada por um amplo número de genes e o efeito de qualquer um deles dependerá da sua interação com muitos outros. (DAWKINS, 2007, p.72)

O gene é um replicador. Uma molécula ou conjunto de moléculas que faz cópias (réplicas) de si mesmo e assim se propaga em uma população.

Porém, em certa altura do livro, ele argumenta que o gene, pura e simplesmente, embora seja a “entidade replicadora mais comum em nosso planeta”, seria insuficiente para dar conta de toda a complexidade da teoria evolutiva darwinista e a síntese moderna e, por isso, faz-se necessário pensar em novas possibilidades de replicação, principalmente para que seja possível acrescentar a questão cultural na perspectiva evolutiva.

O Meme

Na parte final do livro, Dawkins passa a refletir sobre um aspecto que seria tão relevante para a evolução humana quanto à transmissão genética: a transmissão cultural.

A maior parte daquilo que o homem tem de pouco usual pode ser resumida numa palavra: "cultura". A transmissão cultural é análoga à transmissão genética, no sentido de que, apesar de ser essencialmente conservadora, pode dar origem a uma forma de evolução. (DAWKINS, 2007, p.325)

Ele propõe a existência de um novo meio de replicação capaz de dar conta da transmissão cultural e faz uma distinção:

A evolução genética ocorre pela adaptação.
A evolução cultural ocorre pela imitação.

Quanto mais conveniente for uma informação cultural, maior interesse haverá sobre ela e mais imitada ela será.

Para dar um nome para esse novo mecanismo, Dawkins chega à palavra grega mimeme. Como queria aproximar-se a ideia de gene, achou melhor abreviar a palavra para simplesmente meme. Assim teríamos o gene e o meme como mecanismos de evolução, sendo o gene responsável por transmitir a “adaptação” e o meme responsável por transmitir a “imitação”.

Memes

Para que serve o meme na web?

Podemos compreender o meme na web como um recurso de linguagem que permite que signos muito breves e simples carreguem complexos significados e representem partes importantes da informação consolidada na inteligência coletiva.

A inteligência coletiva é a essência dos ambientes virtuais e da própria cibercultura. Não dominá-la ou encontrar-se em defasagem em relação ao seu conteúdo tem como efeito prático a exclusão ou uma espécie de exílio do indivíduo.

Além disso, nos casos em que processos de inteligência coletiva desenvolve-se de forma eficaz graças ao ciberespaço, um de seus principais efeitos é o de acelerar cada vez mais o ritmo da alteração tecno-social, o que torna ainda mais necessária a participação ativa na cibercultura, se não quisermos ficar para trás, e tende a excluir de maneira mais radical ainda aqueles que não entraram no ciclo positivo da alteração, da sua compreensão e apropriação. (LÉVY, 2000, p.30).

Diante desta necessidade fundamental de atualização a respeito do conteúdo da inteligência coletiva, que muda em “ritmo desestabilizante”, a cibercultura cuidou de criar mecanismos que permitam ao indivíduo sincronizar-se, em tempo, com essas mutações. Um destes mecanismos mais eficientes é certamente o que convencionou-se chamar de meme na web.

Como um meme é criado 

Embora esse seja um fenômeno imprevisível e com aspectos bastante aleatórios, é possível perceber que a construção do meme na web costuma obedecer a um roteiro semelhante com o seguinte:

1º) Identificação de um problema coletivo

Um grupo de usuários ou uma comunidade online percebe algum problema, falha, lacuna, inconsistência ou incoerência em algum aspecto da cibercultura. Esse problema pode ser, por exemplo, uma ameaça de fraude, uma informação falsa, uma tentativa de sabotagem, um fato que todos deveriam conhecer, uma habilidade que se espera que todos tenham etc.

2º) Solução do problema

Após discussões online em algum ambiente apropriado, como fóruns, chats ou redes sociais, o grupo chega a solução para o problema. Essa solução é um conhecimento, uma evolução, que precisa ser incorporada à inteligência coletiva para que novos problemas semelhantes possam ser tratados de maneira parecida, com mais facilidade e rapidez. É nesse momento que começa a semiose do meme.

3º) Escolha de uma mensagem que represente a solução

Para garantir que a solução seja disseminada por toda a comunidade e irreversivelmente incorporada à inteligência coletiva, o grupo seleciona alguma mensagem que esteja muito popular em sua rede, ou que tenha potencial para isso. O conjunto das mensagens viralizadas, que estão sendo compartilhadas por um grande número de usuários, é o repertório, o dicionário onde serão buscados elementos de significado para compor o meme.

4º) Sintetização do meme

Ao passo em que essa mensagem começa a ser utilizada para demonstrar a solução encontrada para o problema, ela vai sendo compactada e a cada compartilhamento alguns de seus signos são descartados e outros são destacados. Após sucessivas replicações apenas a parte da mensagem que efetivamente contém o significado desejado pelo grupo é mantida. Essa parte, ou esse signo, é então abstraído de seu contexto original e passa a ser utilizado pela comunidade no lugar de uma explicação mais elaborada e menos cativante para a solução que ela representa.

5º) Replicação do meme

Seja para disseminar a solução (conhecimento) para todo o grupo ou seja para alertar algum usuário sobre sua defasagem em relação a ela, o signo que foi isolado da mensagem original e abstraído de seu contexto passa a ser utilizado para compor novas mensagens, passando a ser parte fundamental do código que a constitui.

Referências

DAWKINS, Richard. O Gene Egoísta. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

LÉVY, Pierre. A inteligência Coletiva: por uma antropologia do ciberespaço. 5.ed. São Paulo: Loyola, 2007.

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