É possível enumerar vários tipos diferentes de conhecimento, mas podemos nos concentrar nos quatro mais importantes e mais presentes em nossas vidas:
- Popular
- Filosófico
- Religioso
- Científico
A pesquisa e suas metodologias existem para gerar especificamente um desses tipos de conhecimento: o científico. Portanto, para se compreender bem o papel da pesquisa em um contexto mercadológico, é importante compreender bem o que é o conhecimento científico, como ele é gerado e quais suas características. Para isso vamos estudar e comparar os quatro tipos apontados acima.
Conhecimento Popular
É valorativo, pois seu peso e importância varia conforma as emoções envolvidas. É reflexivo, porém de modo limitado, pois se fundamentam no senso comum. É assistemático, não obedecendo qualquer metodologia. É verificável pois tem ligação empírica com os eventos do cotidiano. É falível e inexato pois se refere a percepções pouco fundamentadas.
Conhecimento Filosófico
É valorativo, pois seu peso e importância varia conforme a experiência de quem os formula. É racional, pois é formulado conforme uma lógica racional conhecida. É sistemático pois trata-se de representações lógicas da realidade. É não verificável, pois é impossível realizar qualquer teste empírico que o comprove É infalível e exato, pois não é possível questionar a lógica racional pela qual for formulado.
Portanto, o conhecimento filosófico é caracterizado pelo esforço da razão pura para questionar os problemas humanos e poder discernir entre o certo e o errado, unicamente recorrendo às luzes da própria razão humana. Assim, se o conhecimento científico abrange fatos concretos, positivos, e fenômenos perceptíveis pelos sentidos (...), o objeto de análise da filosofia são ideias, relações conceptuais, exigências lógicas que não são redutíveis a realidades materiais e, por essa razão, não são passíveis de observação sensorial direta ou indireta. (MARCONI; LAKATOS, 2004, p.19)
Conhecimento Religioso
É valorativo, pois seu peso e importância variam de acordo com sua relação com o sagrado. Não é racional, mas sim inspiracional, pois tem origem sobrenatural. É sistemático pois é estruturado como justificação da realidade e muita vezes expresso em livros ou sistemas indexados. É não verificável, ou seja, crer nele é uma atitude de fé. É infalível e exata, pois não é possível questionar sua origem, que normalmente é por revelação divina.
Se o fundamento do conhecimento científico consiste na evidência dos fatos observados (...), na evidência lógica (...), no caso do conhecimento teológico o fiel não se detém nelas à procura de evidência, mas da causa primeira, ou seja, da revelação divina. (MARCONI; LAKATOS, 2004, p.20)
Conhecimento Científico
Não é valorativo, mas sim contingente, ou seja, seu valor está na capacidade de ser verificado. É factual e sempre tem base no real. É sistemático, pois obedece a uma metodologia. É verificável e essa é sua natureza. É falível pois nenhum conhecimento científico é definitivo e podem sempre ser questionados, principalmente a partir de novos conhecimentos. É apenas aproximadamente exato, pois sempre pode ser aprimorado.
A partir dessas características de cada tipo de conhecimento, podemos estabelecer o seguinte quadro:
CIENTÍFICO |
POPULAR |
FILOSÓFICO |
RELIGIOSO |
---|---|---|---|
Contingente |
Valorativo (emoções) |
Valorativo (experiência) |
Valorativo (sagrado) |
Factual (real) |
Reflexivo |
Racional |
Inspiracional |
Sistemático |
Assistemático |
Sistemático |
Sistemático |
Verificável |
Verificável |
Não verificável |
Não verificável |
Falível |
Falível |
Infalível |
Infalível (deus) |
Aproximadamente exato |
Inexato |
Exato (lógico) |
Exato (deus) |
Por sua vez, essas formas de conhecimento podem coexistir na mesma pessoa: um cientista voltado, por exemplo, ao estudo da física, pode ser crente praticante de uma determinada religião, estar filiado a um sistema filosófico e, em muitos aspectos de sua vida cotidiana, agir segundo conhecimentos provenientes do senso comum. (MARCONI; LAKATOS, 2004, p.21)
Leia o texto abaixo para compreender como é gerado o conhecimento científico.
A Coisa funciona mais ou menos assim: primeiro nos deparamos com um fenômeno que desejamos compreender. Pode ser qualquer coisa. Um exemplo simples: como acontece a chuva? Diante do enigma, parte-se para formular uma hipótese. Podemos, por exemplo, imaginar que a chuva está ligada à temperatura da água. Se aquecida, ela vira vapor e sobe. Se resfriada, ela cai de volta no chão. Certo, temos nossa hipótese. E agora? A ciência dita que precisamos colocar essa ideia à prova. Testá-la com experimentos e observações.
Podemos esquentar a água com fogo e notar que, a partir de um determinado momento, ela começa a subir para o ar, na forma de fumaça. E se aprisionarmos esse vapor ascendente num recipiente notaremos que, ao entrar em contato com a superfície mais fria, ele volta a virar líquido. E percebemos que isso acontece também no mundo lá fora, embora em ritmo bem mais lento. Uma poça d’água desaparece sob a ação da luz do Sol e volta a se formar quando água cai do céu em forma de chuva. Grosso modo, a confirmação de nossa hipótese a converte em teoria. Ela não é mais só um exercício racional de adivinhação. Ela é uma explicação concreta que nos permite compreender e até mesmo prever fenômenos.
Essa nossa teoria simples da chuva explica toda a história? Claro que não. Sobre ela outros cientistas teriam de formular outras hipóteses, que explicam como a água pode evaporar mesmo que a poça inteira nunca atinja a temperatura necessária, ou como a água se aglutina em nuvens e o que acontece na atmosfera para fazê-la se liquefazer e, enfim, chover de volta ao chão. Essas hipóteses serão postas à prova e gerarão novas teorias, que tornarão nossa compreensão do fenômeno ainda mais refinada. Mas note que novas teorias não substituem as antigas. Elas aprofundam o entendimento, sem anular as conclusões obtidas antes.
É a tal história do Isaac Newton, que ao formular as bases da física moderna se disse “sobre os ombros de gigantes”. Ele construiu sua obra sobre alicerces sólidos. A ciência é um muro de tijolos. Novos tijolos são constantemente colocados no muro. Mas os antigos raras vezes são substituídos. No mais das vezes, eles continuam formando a parede, que fica cada vez mais alta, permitindo que enxerguemos cada vez mais longe.
Por isso é de uma desonestidade intelectual profunda acusar a evolução pela seleção natural de ser “apenas uma teoria”. Em ciência, uma teoria é o máximo que uma ideia pode chegar a ser. E ela atinge esse ponto só depois que foi corroborada por observações e experimentos. Só depois que ela se mostra a melhor explicação possível para um certo conjunto de dados.
NOGUEIRA, Salvador. Cinco provas da evolução das espécies. 26 de mai. 2014. Disponível em: . Acesso em: 26 mai. 2014
Referências
GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 3.ed. São Paulo: Atlas, 1991.
MARCONI; LAKATOS. Metodologia Científica. 4.ed. São Paulo: Atlas, 2004.
Comentários
José Herlander escreveu:
12/04/2017 às 07:34
GOSTEI!
simoes de oliveira escreveu:
01/05/2017 às 07:34
Gostei da aula, vou reler para aprofundar.
Vitor da Silva rosa escreveu:
07/05/2017 às 22:36
Excelente me ajudou muito.
abene escreveu:
13/05/2017 às 17:55
gostei , me ajudou demais